HOJE DEFENDO O QUE VIVO AGORA

By Tiago Ferreira - 16.12.22

Anos atrás dei inicio a uma caminhada. Mesmo que eu estivesse predestinado a andar por caminhos que desconheço, a vida sempre soube que eu encontraria sabedoria para conseguir transformar obstáculos em trampolins. Sinto que estou destinado a ser forte, mesmo sabendo de todas as fraquezas que regem meu agir. Escolhi falar sobre as minhas virtudes por acreditar que sou composto maioritariamente por qualidades, mas nunca fiz questão de silenciar meus defeitos. Estou farto de ter que acreditar que sou força. Não quero ser predestinado a algo que não escolhi. Preciso ter a opção de escolher, de regular, de me arrepender e de simplesmente agir como alguém regado por privilégios durante uma vida.

A vida teceu rendas de certezas a respeito do meu futuro, mas me deixou preso no presente. Sinto que me foi tirada uma possibilidade que torna toda pessoa parte da humanidade: a habilidade de sonhar. Transcender ao que foi imposto hoje sempre foi característica daqueles que conseguiram vislumbrar nas adversidades da vida a potencialidade da existência. O tempo sempre soube respeitar o meu querer, porém não tenho mais certeza se ele correu e me deixou estagnado com a sensação de que estávamos no mesmo compasso. Diante das certezas que cultivei até aqui comecei a desconfiar que me apeguei ao que todo mundo evitou. Acabei sendo o que ninguém quis ser e sobrei ao final de cada dia como a não recomendação de vitória, de certezas, de uma história bem escrita. Não fui incluído no amanhã, tendo sido arrancado das projeções de futuro que estão obscuras naquelas certezas que hoje estão virando um punhado de pó em minhas mãos. Sei o que está acontecendo hoje, mas, mesmo sabendo que nunca estivesse só, tenho a certeza de que colocaram o mundo nos meus ombros. Não me perguntaram se eu estava pronto para sustentar tento peso e muito menos me deram autorização para conseguir descansar aos finais de semana.

Anos atrás entendi que preciso jogar duro para terminar um período de 24h seguro. E jamais desenvolvi a habilidade de compreender a cabeça daqueles que ainda buscam alguma forma de dificultar pelo menos 12h da minha jornada diária - mesmo sabendo o que a palavra segurança significa para que a minha existência tenha o sentido de resistência. Vivi sem conhecer a inocência, a paz, a tranquilidade e a possibilidade de estar confortável. Me fizeram acreditar que o conforto é algo que demanda tempo para acessar, mas também me fizeram acreditar que eu não tenho tempo disponível para conquistar. Procuro palavras para escrever sobre a luta que travo sem que me façam sentir culpa. Não sou um coitado, uma vitima ou qualquer coisa desse tipo. Sei das minhas vitórias, mas também sei dos privilégios que não tenho. Não sou um super herói, mas conheço os vilões que transformam minha vida numa verdadeira tratativa de guerra. 

Hoje defendo o que vivo agora. O que me resta é fazer o gerenciamento dos problemas que estou metido - e isso significa que estou sem tempo de me recordar do passado e sem chance qualquer de planejar o futuro. Ao contrário do que queriam que eu acreditasse, não tenho a necessidade de controlar o amanhã. Desconheço o amanhã, mas sei que não tenho a perspectiva de que algo bom acontecerá nas próximas horas que me esperam. O mal sabe meu trajeto, mas quem aplica o mal não sabe meu caminhar. Se hoje eu pudesse falar sobre a minha história utilizaria a palavra ficção. Não existo para aqueles que não conseguiram me fazer sorrir. Não existo para aqueles que não conseguiram estabelecer vínculo. Estou de passagem pelos principais locais que estou inserido hoje, mas minha dignidade perpassa o tempo e se tornou o principal combustível para que eu aceite parcialmente a imposição da vida sobre a obrigatoriedade do lutar.

"[...] Madereira tem pressa
E o moletom que esquenta o peito (foda, negão)
É o mesmo que limpa a peça
Pois nem todo verde é natural, mas toda madeira foi árvore
Barriga quer devorar, fome quer baforar
América ninguém quer acolher
Aqui é um tipo de abismo que você ouve o eco das cabeça e nada dentro
E plantar uma semente numa cabeça dessa
É ser a chuva, o pássaro e o vento
Eu tirei de tempo e desviei
Quem sempre vem pra distrair
Tirei de tempo e desviei
Quem sempre vem pra destruir
Um verme preso na ideia que tem que fuder
Com a vida de quem não dá pra explorar
Me fez quebrar a régua que mede o meu talento
E hoje eu mesmo abro o caminho que vai me pôr lá
Ei, fictício, ei, fictício
Cê não conhece meu início (expresso sul da América)
Ei, fictício, cê não conhece meu início (expresso sul da América)
Ei, fictício, cê não conhece meu início (expresso sul da América)
Ei, fictício, cê não conhece meu..."

Expresso Sudamericah
Rico Dalasam

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