TRANCADO NO MEU MUNDO

By Tiago Ferreira - 20.3.24


Como eu poderia exigir empatia ou compreensão? Não ando sendo o mais empático ou o mais compreensivo do mundo, então não quero estar no local em que me vejo cobrando, querendo e expondo minhas necessidades. Estou no mesmo mundo que todos ao meu redor, mas só me vejo, só me escuto e só faço questão de me sentir. Egoísmo ou não, egocentrismo ou não, estou preso naquele lugar que somente eu tenho acesso. Desisto da narrativa de estar com quem se importa, pois eu tranquei a porta, mesmo estando no mesmo mundo daqueles que querem me acessar, me tocar, me afagar. Eu guardei a chave e não me recordo o local. Não facilitei, não dei o braço a torcer, então estou aqui com meia dúzia de palavras na cabeça, mas na companhia do silêncio.

Não esperei que fosse dar certo aquelas expectativas que não nasciam de mim, mas rodeavam meu agir e cerceavam meus passos. Não lembro a última vez que experienciei o reboliço que uma expectativa causa ao nascer, ao ser nutrida e ao culminar naquilo que se desenha ao final do expectar. Hoje o silêncio abraça e me refaz por inteiro diante daquilo que assumo não ter controle, não ter poder, não ter influência. Silenciei o que não cabia em mim, coloquei no silencioso aquilo que queria transbordar, tudo que queria me deixar para acessar o mesmo mundo em que coexisto com todos aqueles que simplesmente insistem em tentar me acessar.

E as palavras também estão entrando em silêncio. Nas possibilidades contidas no dizer, eu não sei mais se me lembro de como é falar, assim como estou me esquecendo aos poucos como é escrever. Já deixei as palavras faladas para me dedicar às palavras escritas, mas percebi que não adianta ser lido quando não se permite acesso. Já deixei as palavras escritas para extravasar o sentir, para materializar aquilo que percorre o meu corpo, mas respingou dor em quem estava ao meu redor tentando de alguma forma mostrar o restante do mundo que não conheço. Acho que já não faço mais questão de conhecer o que está além das histórias que já escrevi e das palavras que já falei. Estive exposto com discursos e análises sobre tudo que pensei sentir, então já estive acessível na minha própria vulnerabilidade. Já me tocaram e não me recordo de ter sido recíproco. 

Estou no mesmo mundo que os demais, mas eu existo em mim, apenas eu posso conviver com meia dúzia de palavras ou simplesmente existir no meu silêncio.

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