DEVE SER UMA QUESTÃO SENSORIAL

By Tiago Ferreira - 27.6.24


Queimei a pele como se estivesse colocado em exposição sem proteção por quem cerceava a destruição que eu inconscientemente engendrava naquela praia. Enchi de espinhos, como um cacto, as mãos daqueles que protestavam ao redor do meu desamor e tentavam tocar meu coração para acessar aquilo que os espinhos guardavam com tamanha responsabilidade. Como um repelente potente, coloquei para longe aquilo que se caracterizava como afago. Deve ser uma questão sensorial: repilo o que potencialmente pode ter poder contrário ao que possuo como certeza. E quais certezas eu protejo hoje?

Queria ser prático na resposta dessa pergunta, mas sou um aglomerado de certezas - no mesmo nível que sou um amontoado de questões. O fato é que eu procuro me preencher, dificultando o acesso, desfortalecendo o vínculo e inconscientemente arrumando maneiras de não precisar expectar aquilo que não tive. Machucar. A gente se machuca quando tenta acessar o outro e ele está em outra frequência. Eu penso no meu local hoje como um grande vale tomado por neblina. Não vejo direito e não quero que me vejam. Como não sei quem e/ou o que caminha/transita pelo meu vale, vou me defender de tudo que puder. Essa é a palavra: defesa. Quando a gente caminha o suficiente para se perceber vulnerável, a gente também se torna capaz de perceber o que a vulnerabilidade causa e o quanto precisamos estar preparados para repelir tudo que acompanha essa condição. Estar vulnerável deveria ser uma condição transitória e não uma história de vida, mas nem sempre as coisas ocorrem como deveriam.

Estamos adultos. Estamos para sempre aprendendo. Estamos entendendo a solitude e para sempre aprenderemos sobre como cultivar relações. Estamos em condições de vulnerabilidade - ou somos colocados ou nos colocamos. Seja como for, a responsabilidade deve movimentar o mundo, deve seguir seu curso e deve ser implacável com aquilo que não tem potencial de somatória. Chego na parte do texto em que menciono a potência de deixar para trás pessoas. Não seremos capazes de acessar todos os corações e não saberemos voltar todas as vezes que formos repelidos. E não deve ser um objetivo de vida ser aceito, ser absorvido ou ser acolhido compulsoriamente. Nem todos estarão preparados para adentrar condições que não sejam regidas pelas regras impostas pela normatividade. A vida deve ser implacável e as pessoas também seguirão suas próprias condições e imposições para estar, para ser, para simplesmente delinear as condições seguras para existirem como adultos saudáveis. E o adulto saudável de outrem é um conceito singular, uma definição única para cada pessoa.


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