eu não preciso de ninguém e caibo na minha solidão

By Tiago Ferreira - 8.9.25


Tem um certo tempo que dissertei por aqui sobre o autoperdão. Me perdoar é algo que ainda acontece, ainda estou aprendendo, mas não é com base nos ressentimentos, culpas ou acusações que esse processo se ampara. De certa forma, me perdoar é me perceber, observar o que fui deixando pelo caminho enquanto vivenciava contrastes sociais e (já dito por aqui) psicopatologias. Não analiso minhas ações passadas, pois a mistura de mim atrelado aos inúmeros sintomas definiram como eu seria olhado por quem estava ao meu redor. A observação de quebra de vínculos, relações que não se sustentaram, ou que simplesmente foram colocadas em hiato, são frutos da leitura válida que foi feita sobre uma pessoa que agora se redefine, se redesenha e se percebe. Nunca, jamais, terei como possibilidade retirar a razão de qualquer pessoa que levantou da mesa e foi embora.

Uma frase bem comum que eu tenho utilizado é: estou sentado numa cadeira de pertencimento. O uso dessa frase também se aplica aos relacionamentos que vivenciei. Sendo bem sincere, me levantei de algumas cadeiras, deixei algumas mesas e fui convidade a me retirar de alguns espaços. O fato é que não fui seletivo e/ou rígido a ponto de finalizar vínculos ou coisa do tipo. Tenho comigo o valor do respeito e da dignidade - coisas que não podem ser feridas. Também trago um comportamento meu que eu atrelo ao valor de humanidade que reforço todos os dias: se alguém me diz que dói, então dói. Aprendi a não questionar a dor outro, mas, pelo menos no meu contexto, não existe recíproca para isso. Vai parecer repetitivo, se você estiver acompanhando os textos, mas os adjetivos ainda estão presentes - e eles preenchem a linha do tempo do meu existir. No presente sou o mesmo de ontem - e serei o mesmo do futuro. No meu caso, não existe abertura para a expectativa de encontrar evolução, transformação e potencialidade. Estou sujeito a permanecer aprisionado nos meandros que foram experenciados por quem esteve ao meu lado, mas não consigo mais combater perspectivas e leituras que se escondem atrás de tratamentos que me ferem. 

Queria que os olhos de outrem me dessem a chance de ser aquilo que já foi uma expectativa. Tivemos a chance de retomar o meu local de algoz e também tivemos a chance de tentar compreender papéis, situações e locais (está no plural por terem existido outras pessoas). Não posso permitir que me aprisionem no ontem. Batalhar constantemente para transcender o que doía em mim e em quem despontava como auxílio, ponto de segurança e referencia de cuidado. Hoje, na mesma solidão que me enche, recebo com carinho uma frase importante que fora lançada: "eu não preciso de ninguém e caibo na minha solidão". Frase poderosa e que não se permite ser questionada ou tirada de contexto - pois é simples e direta. Quem se reafirma nesse local, se enche de poder para proferir algo desse tipo, sabe o que está dizendo e os porquês. Algo poderoso: se bastar. Com essa frase entoada, o mundo te vê com poder, e estar com poder é para poucos. 

Entretanto, não estou mais no local de ser cuidade, pois o que me sobra é a lembrança rígida de quem não soube ser cuidade, não aproveitou e não cultivou. Logo, pensando nas minhas responsabilidades, se não fui capaz de ser cuidado, de demonstrar gratidão, também não mereço ter a chance de cuidar. Eu costumo explanar o cuidar e ser cuidade de um ponto de vista bem lógico: "a gente é ajudado ou ajuda quando fala". Se o silêncio é o recurso terapêutico de alguns, posso dizer que não foi meu caso.

Retomo o autoperdão. Me perdoar é uma ação tão exaustiva, mas importante para o continuar, pois sei que não performei de maneira satisfatória muitas coisas que estavam colocadas como expectativas que permaneciam projetadas sobre mim. 

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