
Uma frase bem comum que eu tenho utilizado é: estou sentado numa cadeira de pertencimento. O uso dessa frase também se aplica aos relacionamentos que vivenciei. Sendo bem sincere, me levantei de algumas cadeiras, deixei algumas mesas e fui convidade a me retirar de alguns espaços. O fato é que não fui seletivo e/ou rígido a ponto de finalizar vínculos ou coisa do tipo. Tenho comigo o valor do respeito e da dignidade - coisas que não podem ser feridas. Também trago um comportamento meu que eu atrelo ao valor de humanidade que reforço todos os dias: se alguém me diz que dói, então dói. Aprendi a não questionar a dor outro, mas, pelo menos no meu contexto, não existe recíproca para isso. Vai parecer repetitivo, se você estiver acompanhando os textos, mas os adjetivos ainda estão presentes - e eles preenchem a linha do tempo do meu existir. No presente sou o mesmo de ontem - e serei o mesmo do futuro. No meu caso, não existe abertura para a expectativa de encontrar evolução, transformação e potencialidade. Estou sujeito a permanecer aprisionado nos meandros que foram experenciados por quem esteve ao meu lado, mas não consigo mais combater perspectivas e leituras que se escondem atrás de tratamentos que me ferem.
Queria que os olhos de outrem me dessem a chance de ser aquilo que já foi uma expectativa. Tivemos a chance de retomar o meu local de algoz e também tivemos a chance de tentar compreender papéis, situações e locais (está no plural por terem existido outras pessoas). Não posso permitir que me aprisionem no ontem. Batalhar constantemente para transcender o que doía em mim e em quem despontava como auxílio, ponto de segurança e referencia de cuidado. Hoje, na mesma solidão que me enche, recebo com carinho uma frase importante que fora lançada: "eu não preciso de ninguém e caibo na minha solidão". Frase poderosa e que não se permite ser questionada ou tirada de contexto - pois é simples e direta. Quem se reafirma nesse local, se enche de poder para proferir algo desse tipo, sabe o que está dizendo e os porquês. Algo poderoso: se bastar. Com essa frase entoada, o mundo te vê com poder, e estar com poder é para poucos.
Entretanto, não estou mais no local de ser cuidade, pois o que me sobra é a lembrança rígida de quem não soube ser cuidade, não aproveitou e não cultivou. Logo, pensando nas minhas responsabilidades, se não fui capaz de ser cuidado, de demonstrar gratidão, também não mereço ter a chance de cuidar. Eu costumo explanar o cuidar e ser cuidade de um ponto de vista bem lógico: "a gente é ajudado ou ajuda quando fala". Se o silêncio é o recurso terapêutico de alguns, posso dizer que não foi meu caso.
Retomo o autoperdão. Me perdoar é uma ação tão exaustiva, mas importante para o continuar, pois sei que não performei de maneira satisfatória muitas coisas que estavam colocadas como expectativas que permaneciam projetadas sobre mim.
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