Ultimamente eu tenho pensado no passado em tempos diferentes: o passado no passado, o passado no presente e o passado no futuro. Sempre me encontro consciente de que o tempo está decorrendo e que ele é implacável na hora de deixar suas marcas, cicatrizes, lembranças e memórias. O que me ocorre com bastante frequência é a busca pela minha criança. Talvez eu deva já ter mencionado por aqui que busquei a minha criança corriqueiramente para conseguir afagar, acalmar e tranquilizar. Minha criança, assim como a criança de inúmeros jovens adultos, pode estar presa em algum sentimento e/ou sensação, refletindo no adulto que que somos hoje. Mas a gente vai aprendendo a ponderar sobre como aquilo que nos aprisiona pode ser ressignificado.
Longe de me expor por completo, eu queria que essa tratativa fosse um caminho fácil de trilhar, mas a gente percorre o tempo como uma série de camadas e em cada uma delas quer ver uma criança. Sabe uma cebola? Então, a gente vai camada por camada descobrindo ou redescobrindo memórias e acontecimentos. Particularmente, eu não curto muito reviver o passado na intensidade que minha criança precisa, mas, como já escrevi aqui outras vezes, sempre estive atento ao tempo e parece que decidi apenas permitir que o tempo decorra. Buscar aquilo que me faltou (ou falta) naquilo que já não está no meu alcance é uma tarefa injusta para quem ainda serei. Eu esqueci que também reencontrarei o eu que me buscava na infância. É como se fosse um loop não consciente. Nesse local de reencontros poderei mostrar e ver, ouvir e falar, mas nunca tocarei naquela criança, naquele adolescente ou adulto, pois eles já não me pertencerão mais. Lembra de quando a gente já conversou por aqui sobre o tempo de cada coisa? Então, ele cria uma película sobre o passado, assim a gente volta para ver, mas vai aprendendo a não ser influenciado por aquilo que passou.
Hoje, especialmente, eu estou desconectado da minha criança. Nesse dia, bem especificamente, ela sente diferente de mim e tem memórias que eu não consigo acessar. Sei que estou relativamente bem, pois também tenho memórias para preencher vazios e o um propósito muito importante: cuidar de mim e dos meus. Sempre tive uma capacidade invejável de guardar memórias e lembranças por muito tempo, mas nunca fui capaz de manter laços longínquos. Eu não preciso ser perfeito, assim como a minha criança dessa data não foi. Gostaria de fazer um balanço sobre o ano e a culminância que me traz aqui nesse dia 25/12, mas acredito que não preciso balancear absolutamente nada. Eu quero agradecer. Agradeço por ter sido instável e ter tido crises graves. Agradeço a quem acolheu, permaneceu, insistiu e, mesmo quando tudo pareceu perdido, seguiu acreditando no amanhã. Eu queria dizer isso: sou amanhã. Também agradeço aos que escolheram se preservar, escolheram não aturar, escolheram não perseverar e escolheram por si. 25/12 é sobre o nós, e o meu nós é bem pequeno. O que hoje chamo de nós é imperfeito - e essa lembrança eu consigo compartilhar com a minha criança.
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