NÃO É NÃO

By Tiago Ferreira - 29.12.24


Depois de adultos, alguns de nós aprende que luto não se refere apenas ao que partiu para a decomposição e será agraciado pela crença alheia. Quando adultos aprendemos a verificar que objetos também podem nos deixar enlutados e, talvez o principal, a violação da nossa dignidade, ou daquilo que é imaterial. Tenho informações adicionais sobre o luto: ele tem fases. Pouco nos importa as fases daquilo que definimos como sentimento único, direcionado ao que nos afeta e que se espalha como um aroma de várias notas. Um conhecimento que sempre é bom lembrarmos quando visualizamos o luto de alguém é: nem sempre se refere a algo que partiu. Então, o luto pode ser transformado?

Me recuso a crer que a maldade ainda aguarda em silêncio no breu para agir de maneira articulada. O breu foi feito para ser o breu: nem bom e nem mal. Não me lembro de ter aprendido que morar na escuridão seria algo confortável, algo que realmente significasse potencialidade para idealizar algo parecido com a alegria. Eu não estava errado, mas, dentro das minhas análises, esqueci de buscar a perspectiva de quem olha do breu para a luz. Quando existe luz, quando a luz ilumina, quando a luz envolve, é possível ver do escuro aquilo que se faz inexistente . Parece poético e bonito, mas me recuso a aceitar que alguém ou alguma coisa precise permanecer oculta para ler, admirar e/ou desejar uma outra pessoa. E se fossemos capazes de identificar um perfil para quem fica no breu, como faríamos? Essa resposta jamais conseguirei obter, pois enquanto eu respirar não poderei acreditar que esse local no oculto pode ser algo positivo e nunca aceitarei que aquilo que é engendrado pelas sombras deveria ter a chance de tocar alguém iluminado pela luz.

E se aquele pulmão se enchesse de água enquanto eu pegasse as minhas coisas e voltasse para aquilo que naquele dia tomava por lar? E se de repente eu pudesse ter me lembrado que aquele secador de cabelos nasceu para as águas daquela banheira. Nenhum dos meus planos daria certo, não teve água. Sei o que teve e sei aquilo que poderia ter tido. Sei o que foi e consigo imaginar como poderia não ter sido. Eu simplesmente prefiro falar sobre como foi - resumindo tudo em uma única palavra: nojento. Eu jamais estarei preparade para não sentir ódio, raiva. Deposito em quem a raiva que está exalando de mim? Eu ouvi que ela nem deveria existir, assim também ouvi que ela - a raiva - poderia se tornar justiça, usando a raiva e as próprias mãos. Justiça, a po*ra da justiça. Eu farei? Vou usar as minhas mãos tremulas e a minha memória para alimentar a minha raiva? Eu sou a minha raiva? Meu rancor sou eu? Quais são os sentimentos que darão sentido ao que sobrou de mim depois daquela noite?

Não. Não existe nada para narrar ou descrever ou justificar o que acontece depois do não. Não simplesmente é não. Sei que todos já sabem. Essa verdade está intrínseca a todos que respiram, pensam, vivem e agem. O que acontece se a negativa não se bastar? O que vem depois que o não é friamente ignorado? Já se sabe que o que vem depois tem nome. O que vem depois tem forma. O que vem depois do não ignorado foi devidamente idealizado e é passível de punição. Quem pune? Como se faz a punição. Sei que é necessária uma mega exposição. Depois de se expor e repetir os acontecimentos que sucederam o não, nos colocarão no loop como eternos contadores de lendas urbanas. Quando o não é não, as características da vitima não importam. Não importa suas crenças, seus gostos, suas orientações e não interessa nada que possa justificar uma violação do não. Estamos no auge das discussões sobre diversidade, mas também somos o país que mais mata pessoas trans no mundo. Podemos estar no advento da absorção da diversidade pela sociedade conservadora, mas quem garante que a figura violada será levada a sério. Basta encarar a reação daqueles que estão ao entorno ao ouvirem que o não foi desrespeitado. Como procurar justiça se você está só ou se sentindo desacreditado. Você já deve saber sobre o que esse texto trata. Permaneça segure. Lembre-se que: NÃO É NÃO. Você não está só.

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