RESENHA: EU MESMO SOFRO, EU MESMO ME DOU COLO | PEDRO SALOMÃO

By Tiago Ferreira - 6.10.23

Meu primeiro contato com a obra se deu primeiro pelo título - identificação - e depois por considerar relevante o cenário da poesia contemporânea no Brasil. O título compõe uma trilogia na seguinte ordem: "eu tenho sérios poemas mentais", "se você me entende, por favor me explica" e "eu mesmo sofro, eu mesmo me dou colo". O último, que resenharei por aqui, parece um título de autoajuda, mas é muito mais que isso. Queria deixar claro que leio obras aleatórias e não tenho um gênero preferido, mas curto muito quando o trabalho se conecta comigo pela identificação - que é o caso do título de Pedro Salomão.

SINOPSE: Poeta com mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais Estes poemas são a manifestação literária das minhas dores. É um passeio por palavras que vão te descrever e dar forma para tudo o que você sabia que estava lá, mas não sabia explicar exatamente onde. Eu espero que este livro te faça resgatar sua originalidade, seu cheiro de você. Que te faça faxinar antigas salas empoeiradas de memórias doloridas e reformá-las para novos usos, com uma decoração mais moderna, e que faça sentido com seu “eu” de agora. Afinal, você é uma casa linda demais para ter salas abandonadas.


"eu mesmo sofro, eu mesmo me dou colo" é uma frase emblemática para se colocar como título de livro, mas faria sentido se pensássemos num mundo onde os adultos são saudáveis psicologicamente. Sofrer é um processo orgânico das nossas reatividades e, como uma resposta a alguma coisa, precisa ser acolhido, entendido, digerido e, por vezes, destrinchado. Nesse processo todo o que Salomão nos entrega é o auto acolhimento como recurso terapêutico, então veremos analogias, metáforas e desejos - que tendem a transmutar o sofrer, tendo no acolhimento a potencialidade para o existir no durante e no depois do sofrer.

Muito bem diagramado, trazendo dinâmica para a leitura, fugindo dos padrões poéticos tradicionais, a obra é real, conversa com o mercado atual e ressignificou a minha maneira de ler o cenário contemporâneo atual: ainda é possível termos livros e seguirmos além do Instagram. Pedro Salomão não é um autor do meu nicho de conhecimento, até aqui, mas demonstrou perceber a relevância e a importância do seu trabalho quando em alguns trechos conversa diretamente com seu interlocutor. O autor escreve e publica "eu mesmo sofro, eu mesmo me dou colo" buscando os leitores que encontram-se além do público que já consome seu trabalho.

Aparentemente, desvela trechos da sua vida para provocar identificação, assim como evoca a natureza para significar seus processos de sofrimento e cura. Manipular a natureza, o ocorrer natural das coisas, é algo que os poetas fazem com maestria, Salomão não fugiu dessa habilidade. Poesia por si só já representa cura. Agora, depois de escrever sobre se curar e transformar isso num processo poético, me resta aplaudir o autor.

Por fim, o trabalho está recomendado. Sugiro fortemente que o contato seja pela versão física da obra. Ainda decido se terei contato com os outros dois nomes da trilogia, mas, de todo modo, imagino o mesmo nível de qualidade. 

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