EU TÔ DOENTE

By Tiago Ferreira - 8.10.23


Depois que soube que adoecer era uma realidade e que o adoecimento poderia ser abstrato, questionei a funcionalidade da minha vida. Sou um adulto, e nessa condição eu deveria estar saudável, afinal de contas venci todos os obstáculos da infância e da adolescência, superei todos aqueles índices de mortalidade. Nem sempre tudo vai parecer uma série americana sobre como vencemos desafios, aprendemos lições, criamos rede de apoio e terminamos indo para a faculdade. Ser adulto é complicado, ainda mais quando se trata de ser adulto no Brasil.

Eu descobri que estava doente quando percebi que não conseguia mais tentar reinventar formas de me convencer de que viver é bom. Quando percebi que não era mais capaz de significar e nem ressignificar, voltei para a minha adolescência e me vi adoecido desde lá. O que me trouxe até aqui foi a possibilidade de enlouquecer a cada novo dia, como se estivesse preso num labirinto e tivesse como objetivo me livrar de algo que não me pertencia. Estou oficialmente doente e tomo remédios para isso. Sigo sem conseguir atribuir novas possibilidades ao viver, ao viver que é bom, mas também sigo enlouquecendo a cada novo dia.

Não adoeci como nos filmes americanos e não tive muitas pessoas sensíveis aos meus sintomas. Eu fui acostumado a ser forte, ensinado a resistir com bravura a tudo que contrapõe a minha existência na face da terra e a aceitar que não ser bem quisto é uma sequência do meu viver. Eu fui devidamente ensinado a forjar bem estar dentro do desconforto e a sorrir com uma pedra no sapato. Hoje, como adulto não saudável, colho os frutos dessa violência cotidiana que me ensinaram a me aplicar. Hoje, como adulto não saudável, tenho que tirar pedras do meu sapado, tenho que ficar desconfortável onde está desconfortável, tenho que superar o conceito de fortaleza humana e a aprender que eu não preciso ser bem quisto. 

A gente adoece lentamente como se fosse envenenado em pequenas doses diárias. Hoje, como um adulto não saudável, acolho minha melancolia, pois não penso mais naquilo que eu poderia ter sido se tivesse tido a chance de ser o aposto da melancolia. Ainda tenho tantos remédios para tomar, tanto a desculpar, tanto a ser explorado naquele conceito de depressão. Se antes fosse feliz, não seria quem é. Se agora pudesse não perder para ganhar amanhã, jamais saberíamos se a loucura compensará de fato o preço da cura. Estou reaprendendo a sorrir, mas não sei gargalhar. Estou reaprendendo a respirar sozinho, mas ainda preciso voltar para a superfície recuperar fôlego. Estou doente, mas ciente de que a cura é uma potencialidade.

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