Como acadêmico da saúde, estou sempre me inteirando de assuntos e buscando compreensão sobre as populações em vulnerabilidade ou em minoria social. Com base nessa pequena "justificativa" trago ao Limoções a resenha de Relações de Gênero e Escutas Clínicas de José Stona.

Por se tratar de uma obra dessa dimensão, não posso falar como o psicólogo, então essa resenha não vai analisar determinados posicionamentos e muito menos propor debate sobre as teorias e/ou abordagens que circundam a psicologia como ciência. No meu local, esse aqui de leitor e profissional/acadêmico da saúde, analiso como importante para o meio acadêmico um trabalho que dinamiza as discussões que envolvem raça e gênero - sim, o livro também traz capítulos escritos por pessoas pretas e/ou quilombolas. A clínica compreende o atendimento, acompanhamento e acolhimento, assim como também engloba a escuta qualificada e os protagonistas dos processos psicológicos em performances específicas. A diversidade é algo esperado no meio saúde, por isso discutir as reações e/ou os meandros dessa pluralidade é ferramenta para desmistificar e empoderar profissionais e outros atores.

O interessante do trabalho, ressaltando mais uma vez o meu local para escrever essa resenha, são os posicionamentos diversos dos inúmeros autores, assim como os relatos de suas experiências diversas como profissionais e/ou acadêmicos da saúde. Hoje a psicologia vive um advento de visibilidade, tendo nas suas práticas profissionais inúmeras abordagens, reforçando-se como uma ciência importante para o cuidado e assistência do ser biopsicossocial. Ler sobre as relações de gênero dentro de espaços específicos, vislumbrando signos como a negritude em diáspora, o feminismo preto e quilombola, o matriarcado e tantos outros viabiliza o reforço do campo saúde como plural e diverso, além de ser didático e viabilizar a reprodução de práticas que se mostraram assertivas.
Além do mais, o livro também nos traz suas teorias psicológicas, trabalhando temas específicos da psicologia e filosofia. A maternidade, a criança, o monstro ou a monstruosidade e como essas especificidades compõem a psicologia e também fazem parte daquilo que é mencionado como a lacuna deixada pelos teóricos da psicologia nos aspectos de gênero.
Recomendo a leitura, mas de maneira dosada. Se reforçar didaticamente para impedir que a replicação de microviolências se perpetue no cotidiano é uma responsabilidade individual e coletiva. Se existir a possibilidade, leia com tempo e calma.
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