RESENHA: RELAÇÕES DE GÊNERO E ESCUTAS CLÍNICAS | JOSÉ STONA

By Tiago Ferreira - 13.10.23

Como acadêmico da saúde, estou sempre me inteirando de assuntos e buscando compreensão sobre as populações em vulnerabilidade ou em minoria social. Com base nessa pequena "justificativa" trago ao Limoções a resenha de Relações de Gênero e Escutas Clínicas de José Stona.


A obra publicada em 2021 pela editora Devires traz um compendio de capítulos com a participação de inúmeros autores para debater a psicologia - com bastante ênfase na psicanálise - na clínica relacionada às pessoas transsexuais (não somente). Englobando trabalhos acadêmicos, recortes de trabalhos acadêmicos, resultados de trabalhos de campo, revisão bibliográfica e teórica, o livro abre espaço para colocar as relações de gênero dentro da psicanálise, tentando transpassar alguns conceitos cristalizados de seus teóricos.

Por se tratar de uma obra dessa dimensão, não posso falar como o psicólogo, então essa resenha não vai analisar determinados posicionamentos e muito menos propor debate sobre as teorias e/ou abordagens que circundam a psicologia como ciência. No meu local, esse aqui de leitor e profissional/acadêmico da saúde, analiso como importante para o meio acadêmico um trabalho que dinamiza as discussões que envolvem raça e gênero - sim, o livro também traz capítulos escritos por pessoas pretas e/ou quilombolas. A clínica compreende o atendimento, acompanhamento e acolhimento, assim como também engloba a escuta qualificada e os protagonistas dos processos psicológicos em performances específicas. A diversidade é algo esperado no meio saúde, por isso discutir as reações e/ou os meandros dessa pluralidade é ferramenta para desmistificar e empoderar profissionais e outros atores.

O interessante do trabalho, ressaltando mais uma vez o meu local para escrever essa resenha, são os posicionamentos diversos dos inúmeros autores, assim como os relatos de suas experiências diversas como profissionais e/ou acadêmicos da saúde. Hoje a psicologia vive um advento de visibilidade, tendo nas suas práticas profissionais inúmeras abordagens, reforçando-se como uma ciência importante para o cuidado e assistência do ser biopsicossocial. Ler sobre as relações de gênero dentro de espaços específicos, vislumbrando signos como a negritude em diáspora, o feminismo preto e quilombola, o matriarcado e tantos outros viabiliza o reforço do campo saúde como plural e diverso, além de ser didático e viabilizar a reprodução de práticas que se mostraram assertivas. 

Além do mais, o livro também nos traz suas teorias psicológicas, trabalhando temas específicos da psicologia e filosofia. A maternidade, a criança, o monstro ou a monstruosidade e como essas especificidades compõem a psicologia e também fazem parte daquilo que é mencionado como a lacuna deixada pelos teóricos da psicologia nos aspectos de gênero. 

Recomendo a leitura, mas de maneira dosada. Se reforçar didaticamente para impedir que a replicação de microviolências se perpetue no cotidiano é uma responsabilidade individual e coletiva. Se existir a possibilidade, leia com tempo e calma. 

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