RACISMO ESTRUTUTAL

By Tiago Ferreira - 5.10.23

Hoje, depois de muito relutar e pensar em diversas narrativas, palavras, causas e consequências, evoco esse espaço para disparar um desabafo e dissipar o que acontece de fato quando o negro, periférico, lgbtquiA+ se posiciona e adoece ao decorrer de um processo de ensino e de aprendizado. Um tempo atrás trabalhei aqui no Limoções o conceito fundamental de ser humano biopsicossocial e é bom termos isso em mente quando também acusamos a academia de adoecer. Preencher espaços é uma tarefa que demanda bastante esforços de uns e pouquíssimos esforços de outros, não preciso dissertar o bastante para deixar claro que já estamos racializando toda essa narrativa. Para tanto, na página 40 de "Racismo Estrutural" encontramos:


"[...] Assim, detêm o poder os grupos que exercem o domínio sobre a organização política e econômica da sociedade. Entretanto, a manutenção desse poder adquirido depende da capacidade do grupo dominante de institucionalizar seus interesses, impondo a toda sociedade regras, padrões de condutas e modos de racionalidade que tornem "normal" e "natural" o seu domínio (ALMEIDA, 2020)"

No trecho acima Silvio de Almeida nos chama a atenção para a articulação de determinados grupos dominantes e de como seus enredos acabam por serem vividos naturalmente por quem está ao domínio do dominador. Emblemático evocar esta citação, pois os interesses do dominador quase sempre se contrapõe ao que acredito e ao que luto cotidianamente como sendo esperado parte de um grupo dominado. Pessoas com as minhas características não são facilmente lidas como dominadas, logo se faz necessária a dominação, tornar-se natural o processo dominador por meio de ferramentas e discursos - na academia, por exemplo, os discursos tornam-se grandes articuladores por reforçar os locais de poder/conhecimento e os locais de sujeição.

Assim, como todo homem preto colocado sob suspeição, estou articulando diariamente para aprender a conviver com as acusações que pairam minhas características biológicas, como por exemplo o meu tom de voz. O conjunto de tom de voz, um cabelo afro, 2 metros de altura e uma fala devidamente posicionada causa riscos de instabilidades emocionais em quem convive comigo. Um problema inteiramente meu? Talvez não. O que eu poderia fazer? Ironicamente falando, eu poderia fazer duas cirurgias: uma para alterar meu tom de voz e outra para mudar a minha altura. Ser lido como agressivo é racismo - e é racismo no seu mais puro aspecto de ser. Adoeci. De tanto que falar se tornou um problema, decidi permanecer calado. Aí a gente chega na página 41 de "Racismo Estrutural":

"[...] o grupo dominante terá de assegurar o controle da instituição, e não somente com o uso de violência, mas pela produção de consensos sobre a dominação. Desse modo, concessões terão de ser feitas para os grupos subalternizados a fim de que questões essenciais como o controle da economia e das decisões fundamentais da política permaneçam no grupo hegemônico (ALMEIDA, 2020)"

 "Você não precisa permanecer calado, mas precisa aprender a falar com as pessoas..." - minha concessão foi aceitar que não farei cirurgias, mas farei terapia para problematizar meu tom de voz. A concessão deles foi reforçar que poderei falar, mas preciso aprender antes. Do modo como se é esperado, a concessão deles também coloca para o debate da minha presença no meio em que preencho uma vaga os possíveis profissionais que me acompanham. Essa é outra concessão que soa mais como uma exigência: "dialogar" para decidirmos juntos como ele permanecerá ou sairá daqui. Suspeição. A palavra que tenho utilizado bastante, pois estou constantemente sob suspeição e somente as pessoas brancas ao meu redor determinam ao meu respeito. Para isso, "Racismo Estrutural" traz na página 65:

"[...] O racismo constitui todo um complexo imaginário social que a todo momento é reforçado pelos meios de comunicação, pela indústria cultural e pelo sistema educacional. Após anos vendo telenovelas brasileiras, um indivíduo vai acabar se convencendo de que mulheres negras têm uma vocação natural para o trabalho doméstico, que a personalidade de homens negros oscila invariavelmente entre criminosos e pessoas profundamente ingênuas... (ALMEIDA, 2020)"


CONTINUA

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