TE DEIXO

By Tiago Ferreira - 28.1.19


E você nem sequer me deixou opções de escolha, só foi entregando a dor embrulhada em papel de presente. Não sei em que momento nossos passos se desencontraram, mas sei bem que nunca estivemos indo para o mesmo lugar. Não tive como escolher se deveria chorar ou se deveria sorrir. Você esvaziou o cenário e me deixou sem possibilidades de preencher a cena. Não vejo mais suas pegadas, não sei para que lado você seguiu e nem sequer sei se foi embora de vez.

Eu te deixo ir porque já não consigo ficar. Te deixo partir porque já não existem pedaços inteiros em mim. Te entrego o meu coração porque ele já não bate mais. Te dou o direito de me empurrar do penhasco porque já estou em queda livre. Te deixo vendar meus olhos porque já não consigo mais ver o que está a frente. Eu te deixo segurar minhas mãos porque já não sinto mais o toque em minha pele. Só queria saber se você pretende me matar lentamente ou se vai terminar com o que começou quando eu piscar meus olhos. Te encontrei ao acaso, enquanto vivia o meu descaso. Me fiz inteiro estando em pedaços e te entreguei os retalhos de mim para que você me fizesse inteiro. Te deixo o que sobrou de vida em mim porque já não sei mais me manter vivo.

Não sei mais se consigo me tirar de você. Não sei se quero ser algo além de você. Eu só queria saber se tenho o direito de pedir socorro, se posso gritar, se posso chorar ou se posso respirar. Ainda não sei como acabei me separando do amor que sonhei e nem sei se te vejo como alguém que amei. Você me cavou um abismo e encheu as lacunas de mim com medo do que poderia ser. Não sei se te vejo trazendo as flores que me prometeu ou se te vejo envenenando tudo que encontrou dentro de mim. Continuo mais vivo que morto, mas não sei o que vive em mim. Tudo parou e nem sei mais onde estou. Te escuto dizer coisas que não consigo compreender, enquanto você vai tirando de mim as cores que me faziam poesia.

Te deixo me descaracterizar porque já não sei mais quem sou. Eu te dou a chave para morar dentro de mim porque já não sei mais o que é ter um lar. Te deixo ser as rimas das minhas poesias porque já não tenho mais palavras. Continuo aqui rodeado pelos papéis em que desenhei seu rosto e não sei se aceito o desgosto que é não conseguir me esvaziar de ti. Não sei bem como deixar que as palavras me mantenham vido, mas sei que você também sabe que sou feito de linhas e estrofes. Te deixo cada rima minha porque já não consigo mais segurar uma caneta. Te deixo cada suspiro meu porque já não sei mais se tenho forças para tentar. Te deixo cada inspiração que guardei porque já não tenho mais o lápis nas mãos.

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