CARTA PARA ELA: "SE ESSE GOSTAR TERMINAR, VOCÊ ME DIZ?"

By Tiago Ferreira - 24.6.18

Carta verídica escrita no inicio de junho de 2018. Ela não recebeu. Ela não leu.

Ilustração originalmente feita para acompanhar o post "Carta Para Ela". Clique aqui para ver.
A gente cresce caindo e levantando. Na vida não existe outro caminho até o crescer se não for passando por situações em que nossas certezas são colocadas em prova. Eu sei que a vida é uma eterna escola e existe muito a ser assimilado, aprendido e apreendido. Desde que você chegou na minha vida tenho aprendido muito sobre o gostar e o desgostar. Vivo basicamente numa montanha russa de sentimentos e, quando o assunto somos nós, confesso que quase sempre não consigo sustentar nenhuma certeza. Eu só aprendi há um tempo o que é gostar porque você – durante muito tempo – me ensinou o que é isso. O amor e eu nunca nos demos bem e – não to falando nenhuma novidade – sempre fugi dele. Nunca gostei de me imaginar amando alguém como vejo as pessoas amando. Talvez eu nunca tenha aceitado o amor por simplesmente não ver ele como as outras pessoas – inclusive você – veem. Sou diferente em tantos aspectos, sou tão anormal mediante a tanta coisa simples, sou tão fora da moda e fora dos clichês que sempre acreditei estar indo na contramão de todos os sentimentos relacionados ao amor. Só que recentemente eu engoli a história do amar. Sei que parece meio ruim quando falo que “engoli o amor”, mas para mim isso foi uma conquista. Depois de ter gostado e desgostado, terminado e reatado, me afastado e me reaproximado de você, consegui entender e compreender o gostar e o amor. Eu literalmente engoli essa história que é vendida sobre o amor. Passei a acreditar em meias dúzias de clichês relacionados a esse assunto. Não digo que me tornei qualquer espécie de romântico galanteador, mas absorvi algumas características desses poetinhas de instagram. 


O amor que engoli ainda continua sendo diferente do amor que acredito e, talvez você não compreenda, passei a viver em constante briga com o que acredito e com o que passei a acreditar. O amar que tomei como certo desde que você sentou naquela mesa, naquela tarde, naquela praça é o que eu aprendi com os meus pais. Ali eu tive a certeza de que havia encontrado a pessoa da minha vida, a pessoa que me percebeu, a pessoa que me valorizou, a pessoa que teve olhos para mim, a pessoa que estava se declarando para mim. Obviamente que eu não enxerguei e não valorizei tudo aquilo logo de cara. Sempre estive metido em problemas, fazendo projetos, focado em causas não minhas que só fui perceber e valorizar nossa relação bem mais tarde. Dentro da loucura que sempre foi a minha vida você encontrou um espaço e se acomodou. Você tinha certeza de que estava bem acomodada e, mesmo eu não valorizando e não percebendo sua presença em determinados momentos, sempre tentei te olhar como o que você realmente era: o meu ponto de segurança. Dentro da bagunça do meu viver, você se cansou de ficar em segundo plano, se cansou de ser lembrada quando eu não tinha o que fazer, se cansou de ser a última a participar e a saber dos meus planos e sonhos. Fui apresentado aos seus anseios da maneira mais hostil do universo. Cobranças e cobranças e mais cobranças. Recebi de você tudo o que o mundo me entregava quando se decidiu levantar daquele lugarzinho no cantinho da bagunça da minha vida para tentar ocupar um espaço maior. Você esqueceu que eu ainda era o mesmo jovem problemático no meio dos problemas e partiu para o ataque dezenas de vezes. Eu já devo ter te dito isso, mas vou repetir: eu teria feito o mesmo se estivesse no seu lugar.

Mas eu não entendia suas cobranças como se elas fossem norteadas pelo amor. Afinal de contas, você sempre foi a pessoa cheia de restrições, de regras e de parâmetros que me causava certa raiva saber que a pessoa limitada era a mesma que me cobrava. Você nunca fez algo que não fosse amar, entende? Quero dizer, você sempre dizia que amava. Enquanto que eu ainda estava no caos, você só amava. Não estou aqui desvalorizando qualquer um dos seus sentimentos. O sentir das pessoas – nesse caso o seu sentir – é algo puro e muito importante que não pode ser desvalorizado. O que estou tentando dizer é que quase nunca eu sentia que o amar estava disposto a ocupar um espaço maior na minha vida. Eu via você fazendo guerras e contestando constantemente a minha falta de atenção para a nossa relação, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que você também não podia fazer mais do que amar. Enquanto eu ainda crescia mediante aos acontecimentos do meu caminhar, nunca pude ter você como companhia. É óbvio que sei de todos os motivos das suas ausências e aceito eles muito bem, mas também gostaria que você tivesse aceitado que eu não estava preparado para fazer mais do que eu fazia. Sempre tive a sensação de que você se colocava em um pedestal porque não saia, não tinha muitas amizades e não passava pelas dores que passei. Era muito fácil você ser a invicta em muitos momentos porque nós não estávamos juntos. Você – com toda razão do mundo – tinha (e talvez ainda tenha) seus passos norteados pela sua mãe e eu – como fui um completo idiota na minha adolescência – fugia das ordens dos meus pais. Apesar de gostarmos um do outro, sempre caminhamos em direções contrárias. Talvez determinadas decisões sejam sim influenciadas pela a idade e pelo o que foi vivido antes, mas agora eu vejo que suas cobranças não condiziam com o que você entregava sobre o amar. Durante muito tempo eu me culpei por inúmeras vezes que você disse estar magoada por eu não ter mandado mensagem, não ter ligado, não ter ido a escola, não ter lembrado de você antes de fazer uma viagem, não ter te incluído na minha vontade de morar em outro lugar e assim vai. Eu sempre soube da sua visão ao meu respeito. Você sempre deixou claro que me considera(va?) um inconseqüente, um poço de frieza, uma pessoa egoísta e diversos outros adjetivos ruins, então como esperava que eu pudesse ser diferente se você sempre me viu dessa forma? Não estou aqui me atribuindo culpas e nem atribuindo culpas a você. Mas até que ponto suas cobranças me marcaram? Você já se perguntou isso?

Hoje, depois de entender, aceitar, acreditar e engolir o amor, me sinto grande parte de tudo que você me cobrava, mas não sinto você feliz com isso. Sempre achei ruim essa sua incapacidade de guardar as coisas que você pede, você cobra, você briga e sonha. Você parece fazer questão de esquecer suas ações e suas palavras, já reparou? Sempre ouvi você me dizer que sou muito inconstante e volúvel, mas faz um tempo que decidi ser um pouco estável. Volúvel eu nunca fui, tanto que os meus sonhos e desejos continuam sendo os mesmos desde 2014. A única grande diferença na minha vida desde daquele ano é a maneira a como me comporto mediante a você, a gostar de você. Eu basicamente absorvi suas cobranças e apliquei as ações para saciar suas necessidades em um momento da minha em que estou aqui 100% para você, mas parece que eu demorei a fazer isso. Sinto que você está de partida. Sinto que você não gosta de ver que estou arrumando a bagunça. Parece que você só estava confortável dentro do caos que era a minha vida. Não consigo entender e nem aceitar que durante muito tempo você pedia algo e quando te dou esse algo você demonstra não querer mais. Eu assumo que demorei, mas o amor não deveria ser “para sempre”? Você conhece tanto sobre mim, tanto sabe ao meu respeito, nunca escondi o meu sentir de você. Por que esperou que eu te entregasse o que pedia para dizer que não queria mais? Sei que não ouvi e nem li essas palavras, mas você tem demonstrado desinteresse e parece desgostar. Depois de ter me feito pedir inúmeras desculpas para você sem eu ter feito nada de errado, depois de ter me feito sentir culpado sem ter culpa, depois de ter me feito amar você sem aceitar o amor, serei deixado e esquecido no mesmo lugar que você se sentia confortável? Eu talvez esteja recebendo de você o que você acredita ter recebido de mim. Talvez esse seja o momento de você me dar o que acredita que eu te dei. Me dói sentir que estou sendo vitima de alguma espécie de vingança porque você sabe exatamente que diversos acontecimentos da minha vida não foram decisões exclusivamente tomadas por mim. Você sabe que nos maiores acontecimentos da minha vida você não pôde estar lá. Então como posso sentir que você está jogando sobre mim uma vingança? 

Não acredito em “para sempre” ainda. Não sei se conseguirei acreditar. Eu só estou me esforçando para acreditar no amar. Eu não sei se quero passar pela dor de uma vingança. Mesmo que eu não tenha feito muito ou não tenha te dado o que você esperava, não fui procurar lá fora, em outros alguéns. Sabemos que ambos poderíamos ter ido buscar o que precisávamos, mas, pelo menos eu, tenho escolhido esperar que meus anseios sejam supridos pela mesma pessoa que disse que gostava de mim naquele dia. Se esse gostar terminar, você me diz?

Esperando que esteja bem, 
Tiago Lima.

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