GRITEI ALTO O SUFICIENTE?

By Tiago Ferreira - 2.7.18

Em janeiro de 2016 eu publicava aqui no LM o texto "ALGUMAS PALAVRAS DEVEM SER GRITADAS". Um texto que traz em sua essência uma espécie de diálogo sobre as palavras e a relação delas com o sentimento de ódio que era captado por mim naquele momento.

Eu não costumo revidar qualquer discurso de ódio que chegue até mim e muito menos faço questão de permitir ser tocado por declarações que afetem a minha maneira de ser. Desde que me entreguei às palavras, venho descobrindo que é possível revidar o mal que me é feito simplesmente falando como me senti a respeito. Nunca precisei abraçar o ódio para me sentir satisfeito. Sei exatamente o poder que as palavras possuem porque simplesmente já fui vitimado por elas. Mas em 2016 eu decidi dizer exatamente como preferi acolher o que me é entregue de ruim. O sentido daquelas entrelinhas se fazem presente nessa atualidade - uma coisa não muito comum mediante aos meus escritos antigos - é por esse motivo que vou retomar a escrita daquele texto.

Algumas palavras devem ser gritadas


ALGUMAS PALAVRAS DEVEM GRITADAS - Limoções - 4/1/16

"Me disseram uma vez: "seu sorriso é contagiante..." - Não acreditei. 
Me disseram uma vez: "suas palavras alcançarão muitos corações..." - Não acreditei. 

Algumas palavras devem ser gritadas bem alto para ecoarem e tocarem o coração daqueles que não conseguem enxergar o óbvio. Algumas palavras devem ser cochichadas para somente aqueles que possuem um coração simples ouvirem. Não existe sentimento mais intenso que a liberdade e ela é possível de ser alçada. Não me importo se meu coração partido é a única coisa que possuo agora, mas fui atingido por palavras sinceras que chegaram com força até mim. Nunca acreditei em palavras que não fossem ditas por mim, mas parece que nem sempre a "razão" terá a minha língua como aliada. 

Eu sei que algumas coisas precisam ser ditas e sei também que outras deverão ser guardadas para sempre. Na verdade, só quero que finjam que não existo ou me abracem além de me odiarem. Todos os dias perdemos algumas coisas, eu desejo me perder em palavras que construam a esperança perdida. Eu preciso festejar a companhia das palavras que chegaram para alimentar um coração faminto por coisas boas. Não quero mais me sentir vitima de sentimentos mesquinhos e coloco as mãos para cima e libero um grito bem alto: ESTOU VIVO E SEI FALAR! 

Quero esquecer, por hoje, as mentiras, a falta de esperança, o caos, a tristeza e a desvalorização própria para sorrir sem motivo. Eu quero ouvir as palavras e preciso senti-las! Quero ter ao meu lado as expressões verdadeiras, o linguajar amável, o testemunho amoroso, o enunciado certo, a combinação perfeita e o pacto com a paz. Quero poder dizer que não existem razões para ferir com palavras, mas existem milhares de parâmetros para proliferarmos coisas boas." 

A VINGANÇA NAS PALAVRAS  - Limoções - 2/7/18 

E realmente é possível falar sobre o bem e sobre a esperança mesmo sendo vitima das crueldades do cotidiano. Nem sempre que nos sentimos atingidos, fomos atingidos propositalmente. Quero dizer, a vida é além daquilo que nos acontece de ruim. Somos colocados para vivermos a vida em todas as suas circunstancias, mas por que nos sentimos tão atacados? Por que parece que nosso valor não é reconhecido?

Nunca encontrei as respostas para esses questionamentos, mas tive que aprender que o meu valor deve ser visto primeiramente por mim. Desde que optei por escrever ao invés de falar, as palavras gritam o que não tive coragem de gritar, desabafam tudo o que fui obrigado a engolir, valorizam o que sai de mim e me ajudam a curar possíveis feridas abertas. De fato eu valorizo bastante tudo que escrevo. Desde o poema mais simples ao texto mais complexo, coloco fé e valor em tudo que decidi expor. Definitivamente minhas palavras não carregam qualquer espécie de verdade absoluta, mas trazem ao mundo o meu sentir. O mesmo sentir que foi e pode ser desvalorizado e/ou ignorado, está aqui para ser lido por quem - assim como eu - escolheu acreditar em algo bom e sólido.

Dentro do caos que é a minha vida, consegui encontrar alguma espécie de equilíbrio para me assegurar de que continuarei lucido. Mesmo que a minha lucidez seja mantida pela loucura, continuo vivo e falando. A proliferação do meu pensar e do meu sentir por intermédio das palavras é a única arma que carrego contra os meus desgostos. Ainda quero sentir as palavras que me serão entregues e - mesmo que elas não sejam sobre testemunhos amorosos - preciso sentir que meu viver é capaz de conviver com toda espécie de intensidade que pode e será entregue pela formação de palavras.



Nada é uma verdade absoluta. Nem mesmo o que sinto pode ser. Mas, pelo menos por agora, quero esquecer as mentiras, a falta de esperança, o caos, a tristeza, as cobranças e todos os ataques para sorrir sem motivo. Vou construindo em mim as expressões verdadeiras, o linguajar autentico e o enunciado certo. Enfim, eu sou para mim, o que sou para as palavras.

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