
Nossas emoções respondem ao meio em que estamos. Nossas emoções, geralmente, se materializam de forma rápida e com pouquíssima chance de formulação e/ou regulação emocional. Um fato claro e inquestionável é: reagimos ao meio. E quando passamos a falar de reação, ao ato de reagir sem uma definição mais específica, também estamos falando de ação. Logo, "todo ato gera uma reação". Newton não escreveu isso pensando em relações humanas, mas sua frase coube perfeitamente na abertura de discussões e justificativas de várias ações. Quero chamar a atenção para aquilo que ainda nos mantêm em silêncio, mesmo quando deveríamos reagir e, contra aquilo que somos, nos obriga permanecer calados: o medo de sustentar quem somos. Hoje a gente até tem coragem de assumir, de vestir, de falar, de se portar, de pintar e mais uma série de coisas, entretanto manter-se do jeito que se quer ainda custa caro. Tenho usado um recurso bastante importante nas nossas conversas, nos meus textos: definições. Eu quero discorrer sobre emoções e reações, mas toquei num ponto importante: características. Então, vamos trazer uma definição?
"INATA
- Que faz parte do indivíduo desde o seu nascimento; congênito.
- Que nasce com o indivíduo; inerente: características inatas.
- [Filosofia] Que não depende do aprendizado, da experiência prática nem de sofre influência externa, refere-se especialmente ao que é inerente ao espírito humano; natural. (www)"
Socialmente, as características inatas de uma pessoa podem ser entendidas como qualidades ou defeitos de personalidade, mas, em via de regra, devemos partir do respeito ao analisar, ter contato, avaliar ou qualquer coisa que direcione apontamentos para características dessa natureza. Quando visualizamos um ser humano, trazemos uma carga de vieses e de expectativas que automaticamente nos conduzem a querer encontrar algo em comum, algo similar, algo compatível: identificação. Naturalmente, esse processo de identificação, deveria respeitar um tempo apropriado de contato e de convivência. Viés, vou substituir pela sinonímia perspectiva, é uma tendência perigosa para a aceitação e respeito de características inatas. Se cada ser humano é único, não podemos partir do pressuposto de que uma pessoa diferente de nós se moldará às características inatas encontradas em nós. Ser diferente, ser único, não é base para que nos sintamos especiais, mas precisamos saber onde estão e quem são aqueles que não são compatíveis com a gente. Uma coisa é certa: acolhimento não é condicional de identificação. Acolhimento é um dos atos mais nobres da existência humana. Ele - o acolhimento - se materializa de inúmeras formas, e isso inclui a habilidade de olhar para além de nós, olhar para além daquilo que queremos e/ou buscamos em pessoas, em existências humanas diversas.
Características distintas hoje são definidas como diversidade. A diversidade na sua essência traz o ato de acolher. Como um guarda-chuva, abriga da chuva todes que precisam. Por vezes, um único guarda-chuva não basta, então a gente forma um grande grupo de guarda-chuva. Ser humano, quando entendemos que a nossa existência não é única, possibilita ser plural, e na pluralidade não tendemos a mudar o outro para que ele seja palatável. Obviamente que encontraremos espaços seguros para sermos o que somos, assim como teremos que ser aquilo que não somos. Um exemplo? Seu emprego, meu emprego. Espaços institucionais exigem de nós aquilo que julgam necessário e - por vezes - vão tentar afetar, alcançar e descaracterizar aquilo que é inato. Não, não disse nesse texto que características inatas são por completo e obrigatoriamente adjetivadas de forma positiva.
Entretanto, o que é questionado? O que não é aceito? O que incomoda e a quem incomoda? Só quem ter poder vai questionar quem somos e - na falta de poder - articulações serão feitas para descaracterizar o que somos. Modulação é algo possível para seres humanos e, por vezes, necessária. A modulação é uma potencialidade, mas também é uma arma de extermínio. Que estejamos atentes. Nossos guarda-chuvas precisam estar abertos para abrigar aqueles que terão sua existência adjetivada de maneira a deturpar seu local legítimo de existência.
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