RESUMI O QUE SOU

By Tiago Ferreira - 20.8.19

Fotografia de Olívia Vieira para o projeto "Agosto 30/30" do Limoções 2019.
Resumi tudo o que sou em apenas um de mim. Cansei de ter que sustentar inúmeras versões da minha existência. Centralizei todas as minhas alegrias, todas as minhas memórias, todas as minhas conquistas, todos os meus sonhos. Agora consigo perceber que sou mais felicidade que tristeza. Minhas cicatrizes agora ficaram resumidas na insignificância das suas existências. Sou mais que traumas, que dores, que desgostos e tragédias. Centralizei em uma única versão de mim tudo que é de mim. Estou convencido de que agora sou mais força que desistência e mais coragem que medo.

Vejo as pessoas que chegam ao meu redor e tentam me tocar, tentam alcançar a minha humanidade, a melhor ou a pior versão de mim, terem receio da minha reação. Vejo inúmeras investidas que possuem o objetivo de fazer viva cada dualidade da minha existência se ressabiarem diante do trajeto que percorri. Veja pessoas com flores nas mãos, com armas empunhadas, com acusações preparadas e com elogios aguardando o momento certo para serem proliferados. Agora vejo a melhor versão de mim se sentir preparada para seguir o caminho sem evitar cada coadjuvante, cada figurante e cada enredo não escrito por mim. Estou preparado para fazer uma atuação real, para deixar o monólogo, para discursar, para viver o que antes não era possível, para sentir o que antes era evitado. Tô centralizado numa única existência e sei que o que sinto agora é a intensidade da minha essência.

E como foi essencial ser um, ser dois, ser três, ser milhares. Foi importante ser ator, ficar preso em cada cena, repetir cada fala e permanecer prostrado na insignificância do meu medo. É bonito ver cada um de mim sustentar o peso de cada aprendizado, assim como me enche de alegria sentir toda a experiência que foi coletada por todas as estradas que conheci enquanto vivia como fragmentos. A imperfeição contida em cada versão de mim é rica em aprendizados. A imperfeição contida em cada versão de mim é incrivelmente cheia de força. Foi necessário viver cada proposta, dizer cada palavra, romper cada relação e sentir cada dor. A centralização de todos os papéis que vivi discorre a vitória que cada versão de mim acumulou em anos de isolamento.

Estou diante das conquistas que não valorizei, assim como olho diretamente para cada sorriso que fiz pequeno. A coroa que carrego agora foi conquistada por cada batalha que travei. Sou o que precisava ser para contemplar as expectativas que cultivei. Não há outro de mim, assim não há chances de descaracterizar as singularidades que formam a grandeza que sustento hoje.

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