imPOSSÍVEL

By Tiago Ferreira - 9.8.19


Não me devolveram os sonhos que me foram tomados, assim como jamais tive de volta as palavras que não pude dizer. Há tempos não vejo mais as histórias que escrevi e guardei, assim como não tive mais a chance de fotografar as paisagens que vislumbrei. Fui transformado em vilão, fui usado como instrumento de diversão, mas jamais tive a chance de fazer com que as risadas que não dei voltassem a ser engraçadas. Não me devolveram a alegria que não senti, assim como nunca mais consegui recordar daquelas vezes que gargalhei ao assistir o entardecer de mãos dadas com a solidão. Ainda não me devolveram o título de bom moço, assim como jamais tive de volta o triunfo que me fora arrancado por ter vivido cada passo que dei.

Ergui o império que escrevi, e sorri ao ver do alto que as vitórias que consegui são maiores que os fracassos que me foram atribuídos enquanto aprendia a conviver com a dor. Sou a estrela do meu show particular, a superação que ninguém jamais reconheceu, as flores do jardim que ninguém jamais tocou, sou a canção que ninguém conseguiu cantar. Eu disse, vou seguir nem que seja sozinho. Depois que depositaram em mim o peso maldito de ter que viver a vilania que nunca aceitei, transformei toda dor em passos, toda lágrima em compasso, todo medo em novo caminho, todo desamor em vontade de ir, toda palavra sentida em rima. E foi justamento o silêncio que vivi que transformou o meu jardim fracassado em um campo cheio de flores. Não tenho um plano mirabolante para seguir planejando a insistência, então eu não preciso que meus passos sejam aprovados, não preciso que minhas palavras sejam analisadas, não almejo ser nada além da perseverança que cultivei.

Matei leões e dragões para seguir sendo a vida que escrevi. Triunfei para poder dizer que não me arrependo dos passos que dei. Os gritos de socorro que dei enquanto vivia o desespero da ignorância, ainda ecoam por todo caminho que trilho. O céu não me limitou, o desconhecido não me impediu de imaginar, o fel não me impediu de seguir e acabei aceitando que sou a caracterização do impossível sustentado pela persistência.

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