ALÉM DA GAIOLA

By Tiago Ferreira - 18.11.23

Já nascemos engaiolados ou pelo menos com nossas asas cortadas. Não temos a chance de voar logo que acreditamos ser o momento de alçar voo. Interessante a analogia com os pássaros, pois se trata de um possível diálogo sobre como viver é algo inerente ao nosso existir. Os pássaros resistem ao vento, se abrigam das tempestades e sempre sabem onde encontrar alimento e comida. São animais, inclusive, de muita coragem, pois, mesmo tendo asas, precisam caminhar pelo chão vez ou outra. Nós não teríamos tamanha coragem para caminhar além de voar.

Também penso na solidão engendrada para algumas espécies. Sobreviver sozinhe e encontrar companhia somente para perpetuar a espécie. A forma de amar para reproduzir e na sequência seguir voando só. Estar na solitude não deve ser um problema para os pássaros, mas estar na solidão é um problema grave para o bicho homem. Sei que já falei por aqui inúmeras vezes, mas preciso repetir: entre os humanos não existe o eu sem o nós. Estamos condicionados a existir na coletividade, seja ela seletiva, seja ela tribal, seja ela transitória, seja ela um clubinho. É na coletividade que estamos, muitas das vezes, seguros de nós mesmos. Os pássaros também encontram seus pares, ainda existem espécies que possuem pares para o resto de suas vidas. Curioso conversarmos sobre pássaros, pois eles também podem adoecer na solidão. 

Há quem interessa permanecer só? Quem não tem traquejo social, quem é tímido, quem passou por algum trauma, quem simplesmente escolheu? Não tenho a resposta, mas posso garantir que o nós está lá em algum momento, o nós está nos pares, nos iguais e até mesmo nos diferentes. Queremos ver o mundo do alto, assegurando que nossas relações interpessoais estão ou são seguras. A gente quer ter o domínio do nosso coletivo, mas esquecemos que coletivar é trocar seguranças, assim como coletivar é abrigar inseguranças. Os animais desenvolvem métodos de se defender, assim como o animal homem. São nossas defesas que determinam nosso lugar, nosso grupo, nossa coletividade. Podemos não ter asas e permanecer o tempo com os pés no chão, mas volto a repetir: não existe o eu sem o nós. 

Uma experiência pessoal que compartilho encontra-se no poema abaixo. Um pássaro solitário que endeusava a solidão e não entendia da solitude - e muito menos poderia imaginar sobre o nós. O que temos para hoje, pelo menos para a minha história, é o manejo daquilo que me faltou ao decorrer de anos de caminhada: traquejo. Não estou aqui dizendo que não tentei estar inserido e/ou surfando na onda do social, mas não nasci sabendo voar. Você também deve saber disso: você não nasceu sabendo voar e suas asas poderiam ter sido cortadas. Humanize-se. E não somos pássaros.

Livre como passarinho
Voando por aí sozinho
É assim que escolhi viver
Sem fazer morada

Como passarinho
Quero fazer meu ninho
No alto de uma árvore
Para ver o mundo caminhar

Enquanto carrego os pesos
Do meu viver solitário
Quero ver do alto
O sol ir e voltar

Livre como passarinho
Voando por aí sozinho
É assim que aprendi a viver
Não encontrei morada. (COMO PASSARINHO - LIMOÇÕES | 19/04/2018)

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