A vida é aquilo que conhecemos - e eu ainda acrescentaria que é um emaranhado de sonhos, frustrações e potencialidades. Estamos respaldados pelo passado, vivendo o presente e expectando um futuro digno. A gente também faz balanços e pondera a respeito daquilo que devemos ou não cobrar de nós mesmos - e nem sempre somos capazes de nos humanizar no processo. Queremos, queremos e queremos. Persistimos sobre o querer, e isso não deve ser encarado como algo ruim. Querer ter, querer estar, querer ser e insistir no querer. Talvez agora estejamos falando sobre conquistas, então já vamos definir a vida como a maior delas. Sei que a vida é aquilo que já conhecemos, aquilo que se encaixa nas nossas rotinas, aquilo que se adequou ao que tínhamos como perspectivas e ao que conhecemos como esperança, mas também precisamos ver o agora.
Agora quero estar seguro. Segurança no meu presente para tentar chegar até o meu futuro. Segurança para estar psicologicamente preparado para receber o amanhã e a reaprender a fazer das minhas próprias tratativas combustível para estar, para expectar, para sonhar. Retomo nesse parágrafo um conceito que me movimentou durante um período da minha história: o tempo de cada coisa. Me vi atropelando e sendo atropelado e o que se decorria durante esse processo era o tempo. Certa vez meu pai ponderou: "o tempo só anda para frente" - e essa frase me foi um atravessamento. Me vi exposto e correndo em direção contrária ao que poderia ser o relógio da minha vida. Não sei ao certo o que é o tempo, mas sei que preciso estar em segurança para o decorrer. Estou na terapia, estou na universidade, estou neto, estou tio, estou irmão e amigo. Estou nos lugares e nos papéis que me cabem, mas entendo como parte do tempo de cada coisa o direito de estar no mínimo de mim, de doar aquilo que tenho, mesmo que seja pouco. Segurança é perceber que não é necessário performar e que é direito não vestir uma personagem dentro dos papéis separados para nosso tempo.
O tempo de cada coisa determina o ritmo, a intensidade, a força, a segurança e permeia a existência como uma proteção, uma licença para se recuperar o humano, o legítimo direito de ser e de estar. Insistir em performar foi um apontamento que me veio na cabeça quando meu pai me disse aquela frase, pois trazer comigo o peso da minha existência e ainda ter que suportar personagens é algo terrível. Posso querer cultivar o simples, sempre visando a reciprocidade do bem que me alcança e combatendo o mal que me quer da maneira mais segura: estando sensível e verdadeiro ao lado daqueles que compreendem a pequenitude daquilo que posso entregar no tempo de cada coisa.
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