VIVA A INFELICIDADE

By Tiago Ferreira - 22.4.19

Fotografia de Olívia Vieira para o projeto "Abril 30/30" do Limoções.

Com o passar do tempo fui deixando de lado o medo da infelicidade. Deixei de acreditar que minha tristeza conseguiria me descaracterizar, me destruir ou me abafar. De um tempo pra cá tenho preferido viver as minhas dores, sentir cada um dos meus medos e degustar o sabor das minhas mágoas. Talvez eu precisasse mesmo me conformar e aprender a conviver com as lágrimas que escorrem pelo meu rosto, com as noites em claro pensando nos meus fracassos e com as frustrações que vivo diariamente.

Eu deixei de ver o dia ensolarado e me sentir culpado por não carregar um sorriso em meu rosto. Cansei de tentar descolorir meus dias para que eles fossem encaixados nas minhas dores e parei de tentar justificar cada uma das minhas mágoas. Não preciso mais buscar alimento para as minhas inquietações porque agora tudo parece devidamente justificado, vivido, absorvido e acertado. Não sou feliz quanto ontem e nem sei se serei tão feliz amanhã, mas sei que tenho o direito de viver as minhas aflições sem temer qualquer espécie de discurso encorajador ou a alegria de outrem que sempre me fazia sentir náuseas. Tá tudo bem, eu posso caminhar pela vida de mãos dadas com a tragédia, com o desanimo, com o medo, com a angústia e com a insegurança.

Não quero mais me dedicar integralmente ao fardo pesado de ter que me encontrar, me reconstruir ou me descaracterizar. Só preciso conviver com a escuridão que reside em mim, com as podridões que tentam me fazer pequeno, com os receios que querem me ver longe do caminho, sozinho e desamparado. Parece ser possível ser filho da aflição, ter um coração quebrado, ter energias negativas rondando cada uma das minhas esperanças e incertezas tentando devorar meus sonhos. Não parece mais errada a opção de aceitar conviver com o pior da vida, o pior de mim e com todos os piores pesadelos que atrapalham minha fé de funcionar.

Escolho caminhar com os pés no chão, sentindo o medo, a dor, a tristeza, a mágoa, a angustia e a aflição por ter cansado de comprar a ideia da transcendência feliz, da harmonia plena e da paz de espirito forjada por quem precisa provar que é feliz. Escolho ser o sentimento que me alcança hoje por ter me cansado de tentar engolir a mentira de que a felicidade e a tristeza são inimigas naturais. Sou triste. Sou infeliz. Sou uma pessoa normal.

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