A SOMBRA DAQUILO QUE AINDA IREI APRENDER

By Tiago Ferreira - 2.8.23

Voltei para aquele local de silêncio, aquele mesmo local que já descrevi inúmeras vezes por meio da escrita: o balanço. Dessa vez tento catalogar o saber, a sabedoria. Já me vi sabendo o suficiente para determinar passos meticulosamente contados, assim como já me vi com sabendo o suficiente para escolher não sair do local. O conhecimento, de maneira geral, deveria ser instrumento de libertação, mas, de uma análise bem pessoal, não consigo enxergar essa possibilidade como uma verdade absoluta. Talvez eu saiba sobre ser livre e articule o saber de acordo com as ferramentas que desenvolvi para manipular aquilo que reconheço como domínio, mas ainda tenho a sensação de que o que sei não cabe em mim.

Espaço. Perceber o espaço, conseguir dimensionar e ter habilidade para acomodar aquilo que se tem como posse é uma tarefa que alcançamos com o tempo. Meu balanço, pelo menos dessa vez, reconhece bagunças deixadas desorganizadas, caixas espalhadas, retratos com fotografias desgastadas e até sinto cheiro de lembranças estragadas. Espaço. Reconheço o meu espaço, mas não o reconheço como seguro. Tenho a definição de salubridade bem fresca na memória, assim como tenho nas minhas ações cotidianas tentado alcançar as tratativas necessárias para seguir acomodando em pequenos espaços aquilo que me alcança. O saber tende a querer permanecer em nós, buscando sempre reforçar nosso local dentro dos domínios da certeza e se atrela com a consciência para ativar as memórias que categorizamos como relevantes demais para serem arquivadas. Espaço. Agora, depois de organizar esse parágrafo, percebo que estou coberto por entulhos.

"[...] Entre encontros e desencontros, Luamanda estava em franca aprendizagem. Uma aprendizagem no por dentro e fora do corpo. A cada amor vivido, Luamanda percebia que a lição encompridava, mas que ainda faltavam testes, arguições, sabatinas e que ela sabia só um pouquinho ou talvez nem soubesse nada ainda (EVARISTO, 2020)."

Apreender é a tarefa mais difícil rastreada por mim ao decorrer da história que escrevi até aqui. O saber separar a lição da mágoa, o aprender do rancor, a memória do trauma, a potencialidade da expectativa - e conseguir dimensionar tudo isso dentro do meu espaço - sempre me foi questionável. Não detenho o saber necessário ou não estive pronto para colocar a casa em ordem? Vejo que sei muito a respeito daquilo de que não preciso saber, também como sei muito a respeito daquilo que deveria ter sido usado e depois devidamente descartado. O fato é que meu balanço encontra a Luamanda no ponto de entrave sobre o processo constante de aprendizagem: só percebi que as lições se encompridavam depois de expectar um término para a absorção daquilo que circunda meu viver. No meu balanço, projeto sobre o que sei a sombra daquilo que ainda irei aprender, mas, pelo menos por agora, não sei por onde começar a faxina.

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EVARISTO, Conceição. Olhos d'água. 1. ed. [S. l.]: Pallas, 2020. cap. Luamanda, p. 59-64. ISBN 9788534705257.

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