BORDERLINE

By Tiago Ferreira - 26.8.23

As palavras são atemporais, mas definha quem as escreve. Acaba o coração do poeta, envelhece o cérebro do cronista e termina a criatividade do dramaturgo. A vidinha se baseia em textos bons, medianos e ruins, assim como também desenha personagens que marcarão a obra e se vê na obrigação de exterminar personagens que não serão palatáveis o suficiente. Estou usando analogias que se aproximam da vida que vivemos, pois tenho certeza de que alguns períodos dessa existência chamamos de capítulo.

Pensar na vida como história nos coloca em qual local da produção? Somos desde a criação até a execução? Parece uma análise interessante, mas me soa como irrelevante. Tenho as minhas certezas sobre o vivenciar da minha própria história. Uma tentativa de homicídio diária. Seja pelos sonhos que terão que esperar mais um pouco, seja pelos sonhos que deverão ser redesenhados, seja pelos sonhos que não deveriam ser sonhados. A vida de alguns é a violência que a novela explora em requintes de detalhes, mas, isolando meu caso e minha história, o final deveria ser uma manicômio, uma comunidade terapêutica, uma clínica de repouso num bairro chique. A história que eu supostamente estou escrevendo está numa linha tênue entre estar lúcido para a minha dramaturgia autônoma ou louco para deixar como legado as palavras que registrei antes de encerrar o espetáculo.

Como se eu pudesse entrar num ônibus, sentar ao oposto do sol, encostar minha cabeça no vidro, com meu fone tocando, sentindo os solavancos, me vejo dentro de um abraço. O abraço quentinho do cotidiano enlouquecedor, cotidiano que reconhece a linha tênue que é estar aqui e não estar. E a dissolução das minhas histórias acontece na mesma linha tênue que fizeram meus personagens não serem palatáveis: é seguro e/ou cansativo ficar ao lado de quem está na minha tênue?

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