TRABALHADORES DO BRASIL

By Tiago Ferreira - 30.8.23

Se por um dia eu pudesse deixar de bancar o super-herói, andaria por aí sem ter que me preocupar em esconder as minhas fraquezas. Se eu conseguisse tirar minha capa de herói, iria caminhar sem medo de ser encontrado por qualquer vilão. Se eu pudesse abrir mão dos meus super poderes, deixaria de ter que carregar a responsabilidade de salvar o mundo. Se eu conseguisse deixar de ser herói, buscaria uma vida anônima, sem ter me preocupar em ser descoberto.

Eu poderia simplesmente deixar que o mundo fosse devorado por monstros, mas eu ainda estaria nele. Eu poderia deixar que os vilões tomassem o protagonismo da história, mas eu ainda estaria nela. Eu poderia deixar que existisse um final infeliz, mas eu estaria nele. A história que me coloca como herói é unilateral, é escrita de forma a vetar meus pitacos de escritor, minhas considerações de protagonista, minha potencial habilidade de roteirista. A história que me escalou como herói, me deixou heroico sozinho, sem uma liga, sem justiça, sem chance de formar um clã ou um instituto de super-heróis. Não sei se estou numa história em quadrinhos ou numa superprodução de cinema, mas tenho a certeza de que cansei de acabar salvando o mundo.

Eu poderia me demitir da história, mas não sei quais são as cláusulas do contrato. Eu poderia entregar aos vilões as minhas fraquezas numa bandeja, mas não conseguiria deixar a história com vida. Eu poderia tentar ter um surto, me afastar dos estúdios, poderia ser cancelado na internet, poderia deixar a pinta de bom moço. Se por um dia eu pudesse deixar de lado meu papel de herói, iria viver como alguém que conseguiu relaxar, que teve a chance de baixar a guarda, que caminhou sem medo, que saiu sem hora pra voltar, ou que resolveu não voltar para casa. Eu dormiria todas as noites sem me preocupar com o dinheiro do vínculo empregatício e deixaria de ser sondado pelo futuro que ainda desconheço.


07/julho/2022

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