A VIDA TODA

By Tiago Ferreira - 20.8.23



Ontem eu me contei algumas mentiras para que tentasse cultivar uma esperança sobre o "ficar bem". Me conduzi por caminhos que floreei cuidadosamente para que pudesse passear quando a vida parecesse não caber mais em possibilidades. Me deitei em leito limpo, leito que deixei preparado para quando eu estivesse cansado. Olhei para os retratos da parede e visualizei as fotografias que capturei. Eu vi sorrisos, vi tardes de sol, vi céu azul, vi árvores, cores, vi despreocupação

Ontem eu deixei o tempo escorrer pelas minhas mãos. Tirei a pilha do relógio. Sentei na varanda. Eu tinha o mesmo cheiro de cigarro, eu era o mesmo de antes, eu ainda me ouvia caminhar pela estrada de pedras. Eu sabia que poderia me ver em todas as direções que olhasse, pois eu me tornei um único inteiro, eu sou único. Ainda que pudesse soar como uma mentira, o dia nasceria sem o desespero para desfazer aqueles nós que alguma versão de mim havia deixado em algum dos meus passados. Eu estive em todos os lugares que descrevo nas centenas de textos que escrevi, mas não me recordo se já estive no local da contemplação. 

Admiro o que se formou de mim e aplaudo aquilo que escolho chamar de eu. Eu voltarei a caminhar, desencontrarei as versões de mim, terei espaço para abrigar aqueles que ainda seguem buscando seus pedaços. Não posso dizer que me encontrei, mas posso afirmar que estou reunido com aquilo que já conhecia. Estou em casa com a junção de todas as tentativas de mim. E, pelo menos por hoje, abrigo a obra imperfeita que evitei durante anos de existência. 

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