CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA ILUSÃO DE FAMÍLIA

By Tiago Ferreira - 4.8.18

Fechei os olhos e consegui me ver bem na beira do abismo. De inicio foi difícil de acreditar que deixei os acontecimentos me levarem, entrei na onda. Quando olhei ao redor vi que nem sequer sabia o trajeto que tinha percorrido. Como era possível ter caminhado e ainda estar vivo se não sei por onde andei? O desejo de desistir soou em meu ouvido - como um maldito vicio - que não era mais possível voltar e muito menos continuar. Eu estava na beira do abismo: pulei.

Me joguei ao abismo sem saber que era possível voar. Meus olhos agora estavam abertos e assistiam todo o mundo que eu conhecia desmoronar. Era tudo uma mentira bem contada por quem dizia que me amava. Foi tão confuso ver ruir o que parecia sólido e verdadeiro. Parecia mentira ver toda a realidade que vivi se desfazer e dar espaço para uma grande e única mentira. Cheguei ao chão completamente arruinado e me quebrei em dezenas de pedaços. Ninguém procurou pegar os cacos de mim ou muito menos se importou em explicar o que eu tinha visto ao decorrer da queda. Eu estava no chão junto com o mundo que conhecia. Minha queda era verdade e o amor era mentira.

Para trás, mais ou menos 10 anos, me esforçando demais para fazer parte de algo, para ser aceito no grupo de família. Enquanto eu me moldava, dançava a música e seguia o ritmo nem percebia que ainda não agradava o olhar daqueles que me olhavam com um sorriso no rosto. Para trás, mais ou menos 16 anos, me lembro bem de nunca ter sido bem vindo. Mesmo que eu quisesse ser bem quisto por todos, nunca fui destaque, jamais o foco dos carinhos. Meu nome sempre esteve aliado ao descaso, ao nojo, ao ranço e - mesmo sendo uma criança - nunca escapei das artimanhas do ódio. Recordo cada vez que senti desespero por não ser bem vindo, bem recebido, bem tratado. E não me interessa as justificativas que se levantam para amenizar os horrores que eu - ainda como uma criança - tive que ser submetido. São bem claras as artimanhas usadas para me ferir e - mesmo depois disso tudo - perdoei e escolhi tentar fazer parte. Parte de algo que eu não conhecia. Foi tentando ser amado e tentando amar que eu - Tiago Ferreira - descobri que não poderia alcançar o coração daqueles que dividem o mesmo sangue comigo.

Voltei ao início e senti o amargo do desprezo em minha boca. Depois que percebi que era impossível conviver, fiquei mais habilidoso. Não dancei mais nenhum dos ritmos que ecoavam de lá e não engulo mais a história inventada de que eu preciso me esforçar para ser bem quisto. A única certeza de amor que me restou, foi amar estar distante, foi amar dar desprezo. Meus parâmetros para "família" se restringiram aos meus pais. Tenho certeza de que bem quisto ou mal quisto eu fiz o que pude para me fazer amor. Eu florescia em terra de desamor, florescia em meio ao ódio, florescia acreditando que era amado e agora floresço estando longe daquilo que tentava me envenenar.


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